Publicado em Deixe um comentário

Cerveja Puro Malte – Mitos e Verdades

“Puro malte” é um termo que sempre aparece quando falamos em cerveja, mas esse termo pode causar confusão e até mesmo passar noções equivocadas relacionadas à qualidade da cerveja.

Para começar – O que é Malte?

Para entendermos o que de fato significa uma cerveja ser puro malte precisamos antes deixar claro o que é o Malte.

Diferentemente do que alguns possam pensar, não existe uma plantação de malte, ele não é um cereal específico. O malte é o resultado de um processo chamado malteação ou malteamento.

É possível obter o malte a partir de diversos cereais, como cevada, trigo, aveia, centeio, milho, arroz e a lista continua.

Para produzir o malte, as maltarias controlam a germinação dos cereais e interrompem esse processo secando em diferentes estágios para obter variados tipos de malte, dos mais claros aos mais escuros.

Cada tipo de malte é aplicado para diferentes propósitos na cerveja, e cada tipo de malte é utilizado em diferentes quantidades.

Na cerveja, os maltes têm várias funções, as mais perceptíveis são dar cor, aroma e sabor.

Bom, agora que já sabemos um pouco mais sobre o que é malte, podemos continuar o assunto principal, o bendito “Puro Malte”.

A ideia do termo “Puro Malte” nasce a partir de algo bem antigo, uma lei de 1516 na Alemanha (mais precisamente na Baviera) que determinava, entre outras coisas, o que podia ou não ser usado para se fazer cerveja. Em português se traduziu para “Lei de Pureza da Cerveja”, mas em alemão essa lei é chamada de Reinheitsgebot.

É assim que se pronuncia o nome da lei.

Na lei determinava-se que para a fabricação de cervejas só poderia ser usado: água, malte de cevada e lúpulo. Neste momento as leveduras não eram citadas na lei.

A partir dessa lei criou-se a noção de que uma cerveja só com malte de cevada tinha mais qualidade, o que não é necessariamente verdade.

Perceba que a lei de 1516 fazia referência apenas à cevada, a versão mais atual da lei já permite outros grãos maltados.

Impacto da Reinheitsgebot fora da Alemanha

Ao redor do mundo, informar no rótulo das cervejas que ela estava em conformidade com a “lei de pureza da cerveja” se tornou uma ferramenta de marketing poderosa.

Aqui no Brasil adotou-se o termo “puro malte” para se referir a essas cervejas que são feitas apenas com os 4 ingredientes básicos: água, malte de cevada, lúpulo e levedura.

Afinal de contas, “Puro Malte” é melhor?

A resposta curta para essa pergunta é NÃO.

Para dar uma resposta melhor precisamos entender que o conceito de melhor e pior passa por um ponto muito subjetivo e fundamental: o gosto e as preferências individuais de quem está bebendo.

Aqui no Brasil existe a discussão acerca das “cervejas de milho”. Nossa lei permite que até 45% do que seria usado de malte de cevada possa ser substituído por outros ingredientes, como outros cereais malteados e/ou não-malteados.

Nesse momento é importante deixar claro que o ingrediente não é o vilão da história, o milho faz parte da nossa cultura e da nossa alimentação há séculos, não é por ele ser usado na cerveja que necessariamente a cerveja é pior do que outra que não utiliza esse ingrediente.

Diversos estilos usam outros ingredientes além dos 4 básicos, por tanto, não são “Puro Malte” e são maravilhosas. Raízes, especiarias, frutas, mel, lactose, entre outros ingredientes podem ser usados para criar cervejas deliciosas e não são puro malte.

Aqui na Avós nós já fizemos mais de 150 cervejas diferentes ao longo dos 6 anos (recém completados), algumas foram puro malte, outras não. Nós buscamos sempre fazer cervejas gostosas que vão proporcionar bons momentos e memórias.

O que gostaríamos que ficasse ao final deste artigo é que cervejas puro malte podem ser boas ou ruins, assim como as que não são puro malte, tudo depende da qualidade dos ingredientes, dos processos produtivos bem executados e principalmente do gosto de cada um, se sua cerveja favorita é puro malte tá tudo bem, se ela não é está tudo certo da mesma forma, o que não podemos deixar acontecer é esse termo ser um limitante ou impeditivo para experimentarmos cervejas diferentes e conhecermos o universo gigantesco que é o mundo das cervejas artesanais.